sábado, 3 de maio de 2008

Parlamento português homenageia terrorista

Referi aqui, há tempos, a morte do Cónego Melo, líder terrorista português da década de 1970, que açulou e organizou incêndios a sedes de partidos de esquerda e atentados bombistas, também assumidamente responsável pela morte de um outro sacerdote ("vermelho") e da pessoa que o acompanhava no carro.
Nunca foi condenado por nenhum tribunal (como refere o CDS-PP), mas porque nunca foi levado a nenhum, visto esse tipo de actos violentos e terroristas ter sido amnistiado no final dos tempos revolucionários.

Esse escarro de gente, que décadas depois continuava a vangloriar-se das "suas opções" na televisão, foi homenageado pelo Parlamento do meu país, através da aprovação de um voto de pesar pela sua morte.

Que o CDS-PP o tivesse proposto e votado, no dia seguinte ao 1º de Maio e uma semana depois do 25 de Abril, só demonstra a concepção que a sua actual liderança tem da democracia - bem mais próxima da do seu antigo líder Adriano Moreira, ex-ministro do fascismo, do que do seu fundador Freitas do Amaral.

Que o PPD/PSD o tivesse votado, mostrará falta de espinha vertebral de alguns e, em geral, que a duplicidade de critérios (conforme o criminoso está mais próximo ou mais longe) leva, por ali, à duplicidade de valores e princípios.

Mas a coisa foi aprovada devido à abstenção do PS, porque «nunca votaria contra o pesar pela morte de alguém». Ainda bem, então, que ninguém se lembrou de propor votos de pesar pela morte do Pinochet ou do Hitler (ou, se preferirem, do Béria ou do Stalin) e esperemos que ninguém o venha a fazer se o Bin Laden for morto.

Desculpem, mas fico-me por aqui.
Sinto-me demasiado enojado (e não, obviamente, no sentido de "enlutado").

Umas horas mais tarde:

Arcebispíada

Pregais o Cristo de Braga, Fazeis a guerra na rua. Sempre virados prò céu, Sempre virados prà Virgem. A Santa Cruzada manda Matar o chibo vermelho. Contra a foice e o martelo, Contra a alfabetização. Curai de ganhar agora Os vossos novos clientes: Além do pide e do bufo, Amigos do usurário, Além do latifundiário, Amigo do Capelão. "Abre Nuncio Vade Retro! Querem vender a nação!" "A medicina é ateia, Não cuida da salvação." Que o diga o facultativo, Que o diga o cirurgião, Que o digam as criancinhas, "Rezas sim, parteiras não." Se o Pinochet concordasse, Já em Fátima haveria Mais de trinta mil vermelhos A arder de noite e de dia. Caridade, a quanto obrigas Só trinta mil voluntários! "Cristo reina, Cristo vinga", Nos vossos santos ovários. E também nos lampadários. E também nos trintanários. "Abre Nuncio, Vade Retro! Querem vender a nação!" Ó Carnaval da capela! Ó liturgia do altar! Já lá vem Camilo Torres, Com o seu fusil a sangrar. Igreja dos privilégios, Mataste o Cristo a galope. Também Franco, o assassino, Mandou benzer o garrote.

Zeca Afonso, Enquanto Há Força

3 comentários:

João Feijó disse...

Foi um voto de pesar pela morte de uma figura que, em Braga, constitui um símbolo do caciquismo, do clientelismo e do abuso de influências.

(Paulo Granjo) disse...

Pois é. A cada uns, os herois que merecem.

Ana Mandillo disse...

É de vómitos, tem toda a razão!!!!!
Mas este país tem destas coisas.....