segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Depressão pós-África

Embora Maputo seja a cidade onde vivi que tem amplitudes térmicas mais violentas (por vezes de mistura com sucessões um bocado aleatórias de chuva, céu encoberto e sol de rachar), e embora o tempo em Lisboa até esteja bonzinho, consegui apanhar uma constipação/virose de caixão à cova, pouco depois de pôr o pé nesta pátria madrasta. E a coisa dura, dura, dura, como os coelhinhos do anúncio.

Para ajudar ao inestético e ao desconforto de um nariz pingão e de uns olhos e testa que parecem querer ir passear para outro sítio qualquer, a montanha de apontamentos e cassetes de terreno, aqui ao lado mesmo a chamarem por mim, dão uma vontade de tratar das sempre necessárias burocracias académicas e pessoais que vocês nem imaginam!

Agarrado a esses assuntos, que me levam 5 vezes mais tempo por causa dos olhos que se cansam e das desconcentradoras assoadelas, já nem queria nada de muito especial.
Dava-me por satisfeito em fazer uma paradinha, descer a pé a Kenneth Kaunda, olhar a baía e voltar a enfiar-me no computador.

A minha senhora também teve uma virose dessas, mas é de melhor cêpa. Livrou-se depressa da coisa. Agora, limita-se a andar irritável e com um ar claustrofóbico, numa casa 3 vezes maior que a de Maputo.

A filhosca, que tem otites em todo o lado menos em Moçambique, voltou ao normal. E, apesar da alegria de ver a prima e de gostar desta escola, já me perguntou, assim como quem fala de um direito adquirido e da forma evidente de se viver, em que mês é que, para o ano, voltamos para África.

A cadela passa os dias enroscada, lançando-me olhares acusadores acerca de uma temperatura que até está amena, e faz cenas intermináveis para evitar ir ao passeio higiénico no meio de carros barulhentos - embora, lá chegada, seja tomada de urgências e logo faça aparecer um rio na primeira valeta.

Pesquisei na net "Depressão pós-África", mas parece que os inúteis dos psicólogos só se dedicam a coisas pouco importantes.
Esqueceram-se de inventar esta.

7 comentários:

Anónimo disse...

Tá gira a galinha de Angola.
Foi você que efz?

(Paulo Granjo) disse...

Eh, pá! Ao tempo que eu não ouvia esse nome. Fora de Portugal, chamam-lhe galinha-do-mato.

Quanto ao animalzinho, não tenho responsabilidades no seu nascimento ou na foto original.
Limitei-me a transplantar uma bocados de galos de Barcelos, assim tipo Dr. Frankenstein.

Mas atenção: isto é só uma representação de como me sinto. Não é nenhuma metáfora do tal de Lusotropicalismo.

Anónimo disse...

... De que você é uma prova viva.

(Paulo Granjo) disse...

Olhe que não, doutor. Olhe que não...

Helena Velho disse...

essa dos inúteis dos psicólogos cheira mesmo a antropólogo simples e sem gelo, não acha? e não! não se esqueceram de inventar(nem é função deles inventar, certo?)Das duas uma: não soube procurar ou apenas lhe apeteceu desancar nos únicos que querendo ser mais do que uma ciência social e humana(ainda sonham, em massa, com a passagem a exacta! que não é o meu caso), apelam e ensinam nos bancos das faculdades a importância da interdisciplinaridade, incluíndo nos seus programas a unidade curricular de Antropologia?
E sabe a saudade( tão lusitana!) às vezes faz dessas coisas sem terem necessariamente de ser classificadas por depressão. Depressão é uma doença ...e grave!
E quem , dos que já viveram em África, ao regressarem ao estrito e estreito Portugal não sentem essa sensação, normal, de que nem respirar é tão bom como lá?
É a vida, lá isso é!
Um abraço de solidariedade: também estou com uma porcaria de uma virose e o meu nariz já parece um apêndice inflamado :)

(Paulo Granjo) disse...

Não se abespinhe!
Se se der ao trabalho de ler o que noutros posts é dito ou mostrado sobre os antropólogos (de que nunca me excluo) ou sobre mim próprio, sentir-se-á vingada.

Sou um antropólogo puro e sem gelo (ao contrário, desculpem-me os puristas, do whisky em climas quentes), mas que tão depressa estudo coisas muito exóticas como estudo fábricas, e que já integrei, em pesquisas que coordenei, psicólogos, sociólogos, cientistas políticos e economistas.

Independentemente da minha antipatia pela psicanálise ou pelo uso de chavões psicológicos para explicar fenómenos sociais, os "inúteis dos psicólogos" eram uma figura retórica.
Então eles falam de tudo e de mais alguma coisa e não "inventaram" a "depressão pós-África" que sinto?

Ponto 1, sei o que é uma depressão e sinto sinais dela, pelo que me resta cortar-lhe caminho com as emlhores armas que conheço: a auto-reflexividade, o humor e (tão pouco quanto possível) a sublimação.

Ponto 2, a "invenção" não era (ao contrário dos "inúteis") uma brincadira, mas uma referência a algo que me parece cada vez mais (e não apenas a mim) uma realidade que existe, sob a sua forma presente e entendida e explicada da forma que é, por ter sido inventada: o SPTG.

Mas isso é uma pequena questão, na qual, aliás, a minha voz é irrelevante.

Só me resta dizer: Peace, sister!

Helena Velho disse...

Peace, no doubt , dear brother!
ah! e a Psicanálise não é o meu paradigma...e eu sou boa gente, mesmo abespinhada nunca espeto o ferrão !