quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Lapso freudiano, depois de Dupond & Dupont

Ainda em Maputo, sentei-me há dias para ver o debate entre Louçã e Jerónimo de Sousa.
Com diferenças de ênfase, imagem, retórica e pormenor, lá estavam um frente ao outro, tentando afirmar aqui e ali, quanto ao essencial, «eu diria mesmo mais».
A tal ponto que a cara séria que cada um fazia ao ouvir o outro surgia forçada e se parecia descortinar por detrás dela o pensamento «Este sacana já disse isto... O que é que eu vou dizer a seguir.»

Acabei por mudar de canal.
Não porque me impressionasse, em si mesma, esta performance Dupond & Dupont.
Antes por saber que, sendo evidente que uma alternativa de esquerda só pode ser pensada e feita a partir do debate, diálogo e eventual convergência entre as força que eles representam (na sua diversidade de perspectivas, potencial e experiência), a maior preocupação na sua relação mútua é contabilizar as pequenas ou grandes vantagens que cada um alcança, neste ou naquele campo social ou eleitoral, sobre o outro.
Afinal, um sprint de pequeninos, que inviabiliza objectivos bem mais ambiciosos numa estafeta de grandes. E, sobretudo, alternativas societais.

Ontem, mudei ainda mais rápido de canal, no debate entre Sócrates e Louçã.
Talvez tenha perdido, com isso, coisas que valessem a pena.
Mas uma das primeiras coisas que ouvi foi o nosso primeiro a dizer que se candidatava «a governar com os pés bem assentes no palco. Perdão... no chão.»

É demais, para quem acaba de chegar de Moçambique e, a certa altura, não percebe bem se realmente mudou de país.

2 comentários:

Anónimo disse...

Governar com os pés bem assentes no palco é uma espécie de governo 'à la Lear' com todas as implicações que essa governação contém em si. Por outro lado, a performance do nosso primeiro continua a melhorar, daí a confusão entre palco e país... E agora digo eu com as palavras do mestre isabelino: Mas o mundo não é um palco???
Se calhar o nosso primeiro pretendia imprimir ao discurso um cariz shakespereano, tal é o caos, a desordem, o horror, a morte (leia-se em tom dramático s.f.f.)...E não é que no meio de tanta palhaçada ainda não encontrámos o bobo de Lear?
Tenho pena, essa é a personagem chave da peça.
Vera Azevedo

(Paulo Granjo) disse...

Não teremos que ser nós o bobo, Vera?
Digo: quer quanto à imagem corrente da figura, quer quanto ao papel daquele bobo específico, no Rei Lear?