Foi o encher da barriga e da despensa, em Pemba (norte de Moçambique), com uma baleia que deu morta à costa, na praia de Wimbe.
Baleias que são primas das sereias e portanto, conta-se por lá, das mulheres-do-mar que os portugueses perseguem mergulhando, violam no fundo do mar e a quem cortam depois a cauda - que comem sob o nome de bacalhau.
E que, neste caso, têm a vantagem de se poderem comer sem essa ambígua sombra de canibalismo luso.
Conforme chama a atenção o Carlos Serra, a cena do esquartejamento do cetáceo lembra descrições antigas acerca daquilo que se segue à morte de um elefante.
É que os animais gigantes são dádivas de comida, em torno dos quais urge juntar toda a gente possível, mais banqueteando-se do que tirando a barriga de misérias, antes que se estraguem.
E com isso, claro, reforçam-se laços, solidariedades e mesmo hierarquias (quem come que partes e por que ordem).
Será esse, também e ainda, o efeito numa cidade - mesmo com parte da carne a acabar vendida nos mercados?
O lado gourmet da coisa, entretanto, ainda me lembrou uma história bem político-económica do meu Alentejo natal.
Por lá, naquelas alturas do ano em que os pobres nada mais tinham para comer, davam em procurar as sofisticadas trufas.
Comida de pobre, então, tanto mais que os ricos as desprezavam por serem coisas selvagens desenterradas e por (esperteza ou ironia?) lhes ser dado um nome bem próximo do de uma parte anatómica pouco nobre.
Comer, às vezes, tem muito que se lhe diga.
sábado, 14 de agosto de 2010
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