domingo, 11 de fevereiro de 2007

Cheguei agora, de votar Sim



Cheguei agora a casa, de votar "sim".
Sem indecisões ou dúvidas, que já não se tinham posto há 8 anos, nem sequer há uns 27 - quando era o único homem (ou jovenzinho) no meio de não sei quantas mulheres, protestando à porta da Boa Hora contra um julgamento por aborto.
Agora, como então, a minha motivação imediata foi acabar com os julgamentos e eventual prisão de mulheres que se viram obrigadas a abortar. Também sou sensível à questão de saúde pública e não me são indiferentes os vários tipos de negociata em torno do aborto clandestino.
A razão essencial para o meu voto não foi, contudo, nenhuma dessas. E, por ela não ser necessariamente "boazinha" para muita gente, a calei durante a campanha. Que, entre tanta táctica mainstream de marketing no campo do "sim", não me viessem os amigos acusar de ter um efeito contraproducente.

O ponto onde, antes de mais, se sustenta a minha posição a favor do "sim" é fácil de enunciar: reconheço a cada mulher, e só a ela, o arbítrio sobre o uso do seu corpo e da sua fertilidade.
Isto inclui, claro, em que alturas e circunstâncias ter filhos, ou recusar-se de todo a tê-los. Isto independentemente, também, da situação da mulher ser ou não trágica em termos financeiros, emotivos ou sociais.
É para mim um direito essencial, e basta - em qualquer altura, mas sobretudo nestes tempos em que recrudescem as tentações de policiamento sobre a vida, o corpo e as formas de os viver.

Repugna-me, pelo que tem de excessivo, de ignorância e/ou de miséria, a utilização do aborto como método de contracepção, em vez de último recurso. Mas antes albergar na lei e nos serviços de saúde tais excepções do que punir a sexualidade alheia - pois é disso que, em última instância, se trata.

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