sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Crónicas dos Motins - 4

UM LUSO FACTO

Aos cidadãos portugueses que ontem , no meio dos motins, quisessem reportar às autoridades diplomáticas a sua presença em Maputo, o seu paradeiro e situação, ou mesmo pedir ajuda, ninguém respondia no telefone do Consulado.

No telefone da Embaixada, respondia um senhor dizendo que «é feriado na Embaixada» e, para além disso «há problemas na rua»; «telefone amanhã» porque «hoje não está ninguém».

Tentei que tomasse nota dos nomes e paradeiro dos 7 cidadãos portugueses que faziam parte do meu grupo, esclarecendo que tinhamos sido atacados e havia um ferido ligeiro. Recusou, mandou-me de novo telefonar no dia seguinte e, quando tentei insistir para que apenas assentasse esses dados num papel, desligou-me o telefone na cara.

6 comentários:

Anónimo disse...

Querias os comandos a defenderem-te?

(Paulo Granjo) disse...

Não, até porque não precisava e porque o Regimento de Comandos já não existe desde que o Fernando Nogueira foi ministro da defesa.

Queria que os serviços diplomáticos do meu país não achassem normal que, por ser feriado em Portugal, não tivessem trabalho a fazer durante uma revolta que, na altura, estava em crescendo e era imprevisível nos seus possíveis desenvolvimentos.

Queria que, pelo menos, fingissem importar-se com os cidadãos do seu país, para além desse outro fingimento de o MNE dizer que estamos todos bem sem o saberem, sem o terem procurado saber ou nos terem deixado informá-los da nossa situação. Tal como, na mesma altura, disseram que não havia portugueses no Chade quando estavam lá 5.

Iam na mesma carrinha que nós 4 portugueses de idade respeitável, que, mal tinham pisado Moçambique, foram logo levados para o Kruger Park. Seguia-se a Inhaca e ninguém lhes tinha sequer dito se ainda passariam no Hotel Rovuma ou iriam directos para o aeroporto. Falavam pouco inglês e eram conduzidos por um sul-africano que, compreensivelmente, queria despachar o assunto e ir para casa. O Hotel pelo menos atendia o telefone, mas nem lhes chegaram a telefonar de volta.

Como é que essas pessoas se teriam sentido, e o que é que lhes poderia ter acontecido, se não calhasse partilharmos o mesmo transporte?

Anónimo disse...

Caro bloguista,

Caso tivesse ido ver Blood Diamond, conheceria a expressão "This is Africa". Ou se convivesse mais um pouco com os sul-africanos brancos, vulgo boers, conheceria a expressão "Africa is not for sissies". Resumindo, essa terra não é para maricas.
Se o fosse, o José Castelo Banco nunca teria saido de Moçambique.

Abraço

(Paulo Granjo) disse...

Caro anónimo:

Apreciei a piada, embora eu próprio não seja, por carácter e experiência de vida, nada dado a arrotar valentia e macheza - já por várias vezes tive, aliás, que dar uma mão a valentões borrados de medo (em sentido figurado e, uma vez, literal), para os tirar de apuros ou, simplesmente, de estado de choque.
Tal como conheci homossexuais que foram "cães de guerra" profissionais, vá-se lá perceber porquê.

Agradeço a frase boer, que enriquecrá o meu arquivo de possíveis citações e que não conhecia, até porque nestes 9 anos de vindas regulares e longas a Moçambique convivi e tive por amigos, sobretudo, moçambicanos "negros".
É também por isso (e pela minha profissão) que frequentei e frequento lugares onde poucos outros "brancos" vão, ou nenhum.

Por essa razão, e embora seja modesto quanto ao que sei e ao que há para aprender, julgo que talvez o Leonardo di Caprio não tenha muito a ensinar-me acerca do que "é África" (que, aliás, é muita coisa diferente).
Talvez consigo, que implicitamente se apresenta como um veterano destas andanças, tivesse.

Concordará, contudo, que o que está em questão no post não é nenhuma expectativa de protecção física, mas um comportamento dos serviços consulares e diplomáticos que se aproxima bastante da negligência.

Cumprimentos,

Anónimo disse...

A conversa dos tugas táva nice e ficou por aqui?

Ó professor: porque é que escreveu "vá-se lá perceber porquê"?

(Paulo Granjo) disse...

Com essa é que você me lixou!
Nunca tinha pensado nisso mas, pensando agora, suponho que pela combinação de dois estereotipos:

1) que não é normal uma pessoa sensível escolher para profissão matar com eficiência;
2) que os homossexuais serão pessoas particularmente sensíveis.

O primeiro é discutível (há tantas razões , e tantas delas casuais, para se tomar esta ou aquela opção); o segundo não é necessariamente verdade. Basta pensarmos em pedófilos, que os há de todos os gostos, incluindo homossexuais.
Enfim... estereotipos "simpáticos" também são estereotipos.
Obrigado pela chamada de atenção.