domingo, 22 de março de 2009

De como o silêncio diz muito - 2

A novela "Provedor de Justiça", que já trouxe à baila uns posts abaixo, começa a lembrar-me a história de solidariedade portuguesa com Timor.


Antes de Stª Cruz e seu impacto mediático internacional, havia um pretendente a um trono inexistente explicando na TV que se tratava de um caso perdido por a Indonésia não se poder dar ao luxo de fragmentar o seu império, enquanto os governos e partidos só à última hora se lembravam de enfiar umas palavrinhas acerca do assunto, pro forma, nos seus programas e moções de estratégia, e os cidadãos comuns (entre os quais me incluo) pensavam em tudo menos nisso.
Subitamente, todas as instituições e figuras públicas eram apoiantes desde sempre (e sem um minuto de distração) da causa timorense e nós, populaça anónima, empenhámo-nos na mais consensual, sincera e comovente onda de solidariedade a que este país assistiu desde o pós-25 de Abril.

Desta vez, ninguém deu pelo Provedor de Justiça ao longo dos últimos anos e ninguém se preocupou com isso.
O homem acabou o mandato há 8 meses e tão pouco alguém reparou.
Agora, por causa de desavenças acerca do seu sucessor (que tem o ar de ter começado a ser discutido para aí há duas semanas, num estilo «G'anda bronca! Esquecemo-nos daquele gajo há um ano atrás!»), é uma roda viva de declarações.

Paulo Portas acorda e eleva o assunto a questão de Estado (que efectivamente é e sempre deveria ser, para além de uma questão de cidadania) e tenta passar a bola ao Presidente da AR.

O antecessor da D. Manuela aproveita mais uma para lhe chamar incompetente, dizendo que o PSD devia ter preparado uma lista de nomes inquestionáveis para o cargo. Esquece-se de acrescentar que isso deveria ter sido feito durante o seu consulado...

Porque, esclarece, «dificilmente o país teria um melhor provedor do que Jorge Miranda», donde decorre que «só por birra ou por que não se aceita uma proposta que vem dos outros é que se recusa um nome desses».

Portanto:
- Se o nosso primeiro acha que é bom, é porque é incontestavelmente bom. Ter dúvidas acerca disso é ser birrento ou mal intencionado.
- Embora as relações entre os irmão siameses PS/PSD se tenham pautado pela regra tácita exactamente inversa, é agora birrento que o mano não governante ache um bocado de mais que todos os jobs não governativos e estatutariamente independentes vão para os boys do mano que já tem o governo para brincar.

Mas o que me preocupa, de facto, não são realmente as subversões dos gentlemen agriements do centrão, ou o súbito ruído mediático.
O que me preocupa é a irrelevância a que votámos, todos nós cidadãos, a Provedoria de Justiça, ao estarmo-nos nas tintas para o silêncio que foi a sua única forma de existência nos últimos anos.

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