quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Um padrão que urge quebrar


«Um terceiro grande vector de potenciação do perigo decorre, contudo, das próprias relações sociais e de poder existentes no espaço laboral. Verifica-se, de facto, que as chefias desenvolvem frequentes pressões para que, a fim de melhorar os resultados de produção (mantendo ou aumentando o seu volume, evitando uma paragem ou acelerando um arranque), os trabalhadores executem intervenções ou adoptem procedimentos que, embora mais expeditos, são mais perigosos.» (p. 272)

Antes da explosão e derrame no Golfo do México, a BP recebeu vários estudos que alertavam para a pouca fiabilidade dos sistemas de segurança e apelavam à suspensão da perfuração, mas ignorou-os a fim de maximizar os seus lucros.

Três horas antes da derrocada que isolou os célebres 33 mineiros chilenos, estes alertaram a direcção da mina para barulhos muito fortes e pediram para sair, mas não foram autorizados a abandonar a produção.


Quando, em 2000, escrevia a tese que conduziu ao livro sobre a refinaria de Sines que inicialmente citei, não encontrei outros livros ou artigos que abordassem a subalternização (e incumprimento) das medidas de segurança aos objectivos de maximização da produção e dos lucros, por parte de empresas cuja actividade é perigosa.

10 anos depois, a questão continua a ser minimizada ou ignorada.

No entanto, vamos encontrá-la sistematicamente no centro dos grandes acidentes mais mediáticos e é plausível que ela esteja na base de muitos outros casos que não despertam o interesse da imprensa.
Mesmo as empresas que repetem à exaustão, aos seus quadros e operários, «safety first, production second» nos demonstram, através da sua preocupação e insistência, que o perigo de que o contrário aconteça é bem real e quase uma tendência esperada em indústrias desse tipo.

Cada novo caso de que temos conhecimento nos indica que nenhum deles é um particularismo local ou cultural, um pontual desvio perverso.
Aquilo que eles nos mostram é um padrão sistemático, não de negligência, mas de consciente subordinação da segurança aos critérios economicistas.

Um padrão que só será domável ou quando a (má) experiência e a (boa) racionalidade de uma empresa leva a uma política activa de combate a essa tendência, ou quando as empresas são a isso obrigadas, através de regulamentação e controle exterior.

Um padrão, afinal, que urge quebrar.
A nível nacional e internacional.

O que passa, antes de mais, por reconhecer que o problema existe e é fulcral.
Depois, por o tornar visível e explícito, para as epresas e para a sociedade.
E, claro, por tomar medidas que o combatam.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns pelo blog

Convido-o a visitar o meu
cafecomsociologia.blogspot.com