É incrível, mas está a acontecer.
Mugabe diz que "O MDC, criado sob ordem da Grã-Bretanha, lidera uma cruzada do mal para dividir o nosso povo no plano político e continuar a orquestrar actos abomináveis de violência política visando cidadãos inocentes".
Ou seja, acusa a oposição, vencedora nas últimas eleições, de estar a matar, torturar e agredir os seus próprios dirigentes e votantes. Isto, quando é bem conhecida a realidade pela boca das próprias vítimas e se conhece não apenas a acção das milícias da ZANU, como os militares superiores que foram destacados para as comandarem em várias zonas.
Será para sustentar esta fábula (que me parece mais virada para para os dirigentes dos países limítrofes do que para dentro do próprio país) que a polícia zimbabuéana chegou ao extremo inconcebível de deter os embaixadores dos Estados Unidos, Grã-Bertanha, União Europeia, Holanda, Tanzania e Japão, quando se tentavam dirigir a uma das zonas de violência contra votantes da oposição?
Ao contrário de outros ditadores em queda livre, Mugabe já não manda sozinho no país, desde pouco depois das eleições. É apenas um dos pares, numa junta da oligarquia politico-militar.
O que se tem estado a passar não é. por isso, o resultado das "pancadas" de um homem demente. É a acção deliberada de uma elite rapace que vê o país como propriedade sua e não concebe a possibilidade de perder os seus privilégios.
Individual ou colectivo, o crepúsculo dos deuses é quase sempre ridículo.
Mas, tragicamente, é habitual que tentem levar consigo a "sua obra" - o seu país e o povo que neles acreditou.
Será que as lideranças dos outros países da África austral não aprenderam nada com a história e com esta crise, para que continuem na "diplomacia silenciosa"?
Sim. Alguns aprenderam.
Angola aprovou legislação autorizando, em toda a legalidade, o adiamento da divulgação de resultados eleitorais durante 15 dias. Para que eleições, neste século ou no próximo, é que não se sabe.
quarta-feira, 21 de maio de 2008
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2 comentários:
É incrível e desesperante este mundo que criámos à nossa imagem.... Que fazer? continuamos com as nossas vidinhas e quando estamos com amigos comentamos: hã e tal aquela história do Zimbabué, e tal e coiso -há aí mais cerveja? É assim.... "cá vamos com a cabeça entre as orelhas"....
Verdade.
E é verdade, também, que ninguém pode ou deve carregar às costas, sozinho, o peso do mundo. Mas a naturalização destas coisas é, de facto, de mais.
E nem sequer se trata apenas, creio eu, de uma questão de solidariedade humana.
Até numa perspectiva meramente egoista, seria bom lembrarmo-nos de que, por cada coisa destas que deixamos passar como se fosse irrelevante, mais fácil se torna que nos caia em cima algo de parecido.
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