terça-feira, 6 de maio de 2008

Um velhote subversivo

Abdoulaye Wade, o octagenário presidente do Senegal, propôs ontem a extinção da FAO, a agência das Nações Unidas para a alimentação.

Os argumentos são fortes:
- gasta a maioria do dinheiro no seu próprio funcionamento e faz muito poucas operações eficazes no terreno;
- as suas actividades sobrepõem-se às de outras organizações, aparentemente mais eficazes;
- a política alimentar baseada no assistencialismo e caridade deve ser abandonada em favor de um política de apoio à auto-suficiência, através do investimento inovador na agricultura;
- a actual crise alimentar mundial prova o fracasso da FAO.

O último argumento levanta-me uma dúvida. Será que o atrevido cota não reparou que os governos não têm, desde há décadas, mão sobre as grandes empresas e especuladores? E que, se as Nações Unidas tivessem sequer essa veleidade, já teriam sido extintas?

Os restantes demonstram que estamos perante um perigoso subversivo.
O que é que se ia depois fazer aos excedentes alimentares subsidiados a preço de ouro nos EUA e na Europa?
E às "máquinas" de consumir recursos e desviar fundos, internacionais e locais?
E ao assistencialismo, essa actividade económica importante e em franco progresso?

É curioso que este discurso dissonante venha do país que era citado, nas décadas de 1970/80, como exemplo da monocultura de exportação que põe em causa a segurança alimentar das populações. E que seja expresso por um político idoso que pouco terá já a perder.
Parece que é preciso isso para se dizer o que é evidente.


Sobre o assitencialismo, volto a sugerir este livro.
Acerca dos cuidados a ter quando se embandeira em arco com a inovação agrícola com base em sementes milagrosas, este post.

1 comentário:

(Paulo Granjo) disse...

Confesso que não percebo porque é que esta questão não mereceu nenhum comentário.
Nem porque é que estou a escrever este. Assim como assim, aposto que ninguém o lerá.